segunda-feira, 31 de outubro de 2011

I Congresso do Livro discutiu alternativas “para que o livro não morra”

Em Março, no Reino Unido, foi divulgado um estudo que revelava que 10% dos britânicos, com idades entre os 15 e os 54 anos, tinha um iPad, o tablet da Apple, e 30% tinha um e-reader, um leitor de livros electrónicos como o Kindle, Sony ou Kobo. Estes números vão aumentar até ao final do ano, com a compra de presentes de Natal. A revolução digital veio para ficar. E embora a Europa esteja atrasada em relação aos Estados Unidos quando se trata de adoptar o digital no mundo editorial, isso não significa que essa mudança irá passar-nos ao lado.

"A revolução digital está em nosso redor, é um momento transformador, o equivalente ao momento da revolução de Gutenberg", afirmou Fergal Tobin, presidente da Federação Europeia de Editores e um dos convidados do I Congresso do Livro, organizado pela Associação Portuguesa de Editores e Livreiros (APEL) e que reuniu nos últimos dias editores, livreiros e agentes literários na Praia da Vitória, ilha da Terceira, Açores.

Há a ideia de que a indústria editorial sobreviveu ao aparecimento de outros media durante o último século — rádio, televisão, Internet — e que irá sobreviver a este também. Desenganem-se. "Este momento é diferente. Vamos sobreviver à chegada do digital, mas ele já está a afectar o nosso ambiente tradicional da indústria editorial e com um efeito muito maior do que aconteceu com o aparecimento dos outros media", disse.
E atreveu-se a fazer um pouco de futurologia, embora na literatura e nas “belles lettres” a mudança para o digital pareça estar a ser menos penosa do que nas áreas mais comerciais. A opinião de Fergal Tobin é que o nicho literário continuará a existir no livro impresso, mas vai ser pequeno e talvez demasiado pequeno para ser comercialmente viável. A não-ficção terá uma mudança significativa do impresso para o digital, nomeadamente nos livros de saúde, jornalismo, auto-ajuda, etc. E os livros de arte ficarão em papel pois, acredita Fergal Tobin, não haverá ecrã de televisão em alta definição que substitua a leitura de um álbum. A conclusão é que a mudança vai ser "decisiva e transformadora" e as ameaças são reais para alguns sectores.
Alterar leis
Uma das conclusões saídas do congresso é a de que "a alteração da legislação é necessária para adequá-la à defesa da saúde do negócio dos direitos dos autores e dos editores", disse ontem o editor João Rodrigues, presidente da comissão organizadora do I Congresso do Livro, na sessão de encerramento.
Na plateia, Isaías Gomes Teixeira, administrador-delegado da Leya, alertou para a necessidade de mudanças na lei e da urgência de se tomarem decisões por causa da concorrência num mundo globalizado. Em Portugal há a lei do preço fixo e ao livro electrónico é aplicado o IVA à taxa máxima de 23%. No Brasil não. E, por isso, até ao final do ano o administrador da Leya terá de decidir se a livraria online do seu grupo — a Leya Mediabooks, que vende e-books de autores portugueses que também estão publicados no Brasil — continuará portuguesa ou passará a ser uma empresa brasileira, já que a Leya opera nos dois países.
A União Europeia, explicou o editor da Principia e da livraria Ferin, Henrique Mota, está a estudar a questão do IVA e, provavelmente, irá impor um princípio de territorialidade: um livro digital vendido no Brasil terá de ter o IVA aplicado no país de onde é enviado. Para aumentar a confusão, se um editor português vender actualmente um e-book integrado num suporte físico, a esse e-book já é aplicado o IVA à taxa reduzida.
Cabos, capas e baterias
Durante as discussões nos dois dias do congresso foi também consensual que é necessária a preservação da rede livreira independente. "Estas livrarias têm de sobreviver com as adequações necessárias à revolução digital", disse outro dos convidados, o presidente da Federação Europeia de Livreiros, John McNamee.

Isabel Coutinho
Público


sexta-feira, 28 de outubro de 2011

"Este novo livro fecha um ciclo" - José Luís Peixoto lança hoje 'Abraço', que reúne textos da última década. Além dos livros e da intimidade, o autor fala sobre a sua incapacidade de aceitar um cargo político.

Correio da Manhã - Apesar de ‘Abraço' ser formado por crónicas isoladas pode ser lido como um romance, dada a continuidade que passa. Foi fácil a articulação?
José Luís Peixoto - Para mim, o que foi mais difícil e o maior desafio na construção deste livro foi justamente a selecção dos textos e a sua organização. No momento em que me propus a transformar todo o material que tinha - que eram dez anos de publicações em revistas e jornais - não era muito evidente como ia pegar naquilo e dar a forma que eu queria. Encontrar um fio narrativo, uma sequência lógica que permitisse criar um livro e não num simples arquivo.
- Houve então uma intenção de criar uma sequência.

- Sim. E a estrutura do livro é próxima da árvore, no sentido em que tem um tronco com diversas ramificações. Esse tronco, a partir do qual tudo vai derivando, é uma sequência autobiográfica, o que faz com que o livro seja, em certa medida, um livro de memórias. Desde a minha primeira memória, até episódios muito recentes da minha vida. Tudo acaba por assentar em três pilares, que são três idades: os seis, os 14 e os 36 anos. De certa forma quis que isso fosse sugerido por um texto que é o primeiro e que está fora dessa estrutura. É um texto em que falo dos meus filhos. As idades de seis e 14 são as dos meus filhos e 36 a minha própria idade quando terminei o livro.
- Há uma crónica em que se fala do acto de se expor e não se ver problema nisso. Não há, portanto, receio de partilhar a intimidade?

- Não, este livro entra muito profundamente na intimidade. Há textos que estão muito nesse âmbito. Não vejo motivo para as pessoas se surpreenderem com a intimidade. Não se está a revelar nada que não seja da esfera do humano. Chorar, por exemplo, toda a gente chora... As coisas consideradas mais íntimas toda a gente as faz. Daí este título, ‘Abraço', ser tão afectivo.
- E caloroso.

- Sim, porque é humano. É algo que é transmitido de uma pessoa para a outra. E isso é algo de precioso. Parece quase um slogan, mas enquanto estava às voltas com a organização deste livro, pensei no que era mais importante para mim. Por um lado, estava restringido pelo que tinha, por outro o que queria dizer e dar aos outros. A conclusão que cheguei é que queria fazer alguma coisa sobre o que é mais importante para mim. São os meus filhos. Há aquela palavra sobre-utilizada, que talvez o seja devido à sua importância, que é o amor. O primeiro texto do livro, em que o meu filho mais novo me vai perguntando sucessivos ‘porquês?' a partir de uma afirmação simples. A resposta final acaba por ser "Porque o amor, filho." [risos] No fundo é isso: quando penso naquilo que é efectivamente importante para mim, e coloco uma lupa em cima disso, e quando penso no que faz ficar de consciência tranquila de dar aos outros vai sempre dar ao amor.
- O livro assenta muito nos conceitos ‘família', ‘paternidade', ‘amor', ‘morte'...

- Às vezes, para mim, também é importante dizer aos leitores que sou uma pessoa. Os autores muito facilmente podem ser desumanizados, apesar de fazerem algo de tão humano como a escrita. A relação entre o leitor e o autor é bastante distante, porque se processa através das palavras e através de um meio que não privilegia o contacto directo.
- O seu estilo contraria isso.

- Tento aproximar-me e dizer às pessoas que aquilo que faço é o que elas fazem. É o que toda a gente faz. Até a Rainha de Inglaterra [risos].
- Por outro lado, fala-se de Facebook, fala de uma tampa de caneta esquecida num bolso ou de uma rapariga na esplanada. Há aqui um elogio das coisas simples?

- Sim. E do presente e do prosaico. A soma disso acaba por ser a nossa vida. Isso faz-me pensar na importância destes textos para mim.
- E revê-se em todos eles? Até nos mais antigos?

- Neste livro, dos textos que publiquei nas mais diversas publicações, os poucos que não estão neste livro são os que considero que não têm validade. Esta é a escolha daqueles que merecem ser lidos no futuro. Um livro como este corre o risco de ser subvalorizado por não ser um romance nem um texto inédito. Tenho muita pena se isso acontecer e vou fazer de tudo para que tal não aconteça. Sinto que se há algo que a mim me dá uma imagem do que foi o meu trabalho de escrita nos últimos dez anos é este livro. Quais foram os meus interesses, os meus temas... Há inúmeras situações, personagens, lugares dos meus romances que se percebem aqui de onde vêm. Para mim, este livro é tão importante quanto os restantes. Não é um repositório, um caixote, uma gaveta.
- É, portanto, um livro de balanço de uma década?

- Exactamente. Precisava de organizar tudo o que tinha. Não no sentido de organizar os papéis que tinha lá em casa, mas organizar a minha cabeça e para poder ter novas ideias. É muito importante tirarmos do nosso sistema o que temos para termos novas ideias. Precisava de fazer o balanço de todas estas questões para avançar com novas ideias.
- O ‘Abraço' é o fechar de um ciclo?

- Sim, este novo livro fecha um ciclo. Não porque abandone alguns temas que, se calhar, não tenho completamente resolvidos, mas também por fico com uma noção muito mais clara do que me falta dizer.
- Um tema que tem sido muito focado na sua obra e, obviamente, retratado neste livro, são as suas raízes, na Galveias. É um desses temas que nunca ficarão resolvidos?

- No que diz respeito à minha terra e ao Alentejo, ainda só comecei a escrever sobre o tema. Tenho muito para dizer. Há aí uma coisa que me fascina e que faz parte de mim que é a procura de um lugar no Mundo. Falando de tantos temas, este livro fala de viagens, de desenraizamento, de aeroportos, de hotéis. Quanto mais viajo, mais me interrogo sobre o meu lugar e sobre essa ligação quase sagrada que tenho com esse ponto do Mundo onde nasci e cresci e me formei.
- Aos 37 anos, tem mais respostas ou mais questões sobre esse lugar?

- Sinto que tenho mais respostas, do que as que já tive. Tenho mais a dizer, mais palavras dentro de mim. No entanto, isso implica que tenha também mais perguntas. Ao mesmo tempo, sinto que há questões para as quais nunca vou ter respostas e isso não me angustia. Pelo contrário: até aceito como um aspecto positivo, porque sei que ter um ânimo permanente, um horizonte é importante... até aos 150 anos! Não há limite para isso. Esse horizonte, essa capacidade de continuar a ser estimulado por perguntas é um elemento inerente de estar vivo.
- Considera-se um escritor filósofo?

- Não. Sinto que, em certa medida, a filosofia está presente em todas as formas de expressão e reflexão. Seria um pouco forte pensar nisso. Não sendo um filósofo, sinto que há uma filosofia presente naquilo que escrevo. Da mesma maneira que, não sendo músico, existe alguma musicalidade nos meus textos. São elementos inerentes ao discurso.
- O ‘Abraço' é o livro certo, de passagem, após o êxito crítico de ‘Livro'?

- Para mim faz sentido. Mais do que enquanto obra, do ponto de vista pessoal. Não consigo escrever um romance por ano. Neste momento da minha vida, não tenho assunto suficiente para escrever um romance por ano. Tendo publicado um romance no ano passado, dificilmente conseguiria ter um romance publicado neste ano.
- Não gosta de trabalhar à pressa?

- Não consigo. Sinto, de alguma forma, que o ‘Livro' marcou um momento que também foi um degrau acima daquilo que tinha feito antes. E, de certa forma, um balanço. O ‘Abraço' acaba também por ter esse carácter. É importante resolver algumas questões que estão em mim, para depois seguir em frente.
- Apesar disso, a sua carreira literária, nesta última década foi extensa. Além de quatro romances, publicou inúmeras crónicas, peças de teatro e até letras de músicas.

- Este livro acaba por ser também um aspecto fundamental da minha acção. Ao fazê-lo, gosto de pensar que estou a reconhecer a importância a essa produção. Estes textos terão validade, espero eu, dentro de um ano, cinco anos, ou até depois.
- A tecnologia veio corromper a leitura?

- Acredito que a tecnologia não compromete e pode oferecer novas formas de comunicação e novas perspectivas sobre esta área tão antiga que é a escrita. Pessoalmente, tenho interesse em fazer parte dessa procura e não temê-la. A validade de uma forma de expressão é tanto maior quanto mais conseguir resistir às diversas realidades humanas. E a escrita retrata de forma muito presente essas novas formas.
- É poeta e este ano o Nobel reconheceu o sueco Tomas Tranströmer. Foi importante para o género literário esta distinção?

- Confesso que não conhecia a obra desse autor. É importante que a poesia continue a ser considerada dentro dos níveis de maior reconhecimento da literatura. A poesia é um género muitíssimo importante e nós, em Portugal, sabemo-lo muito bem. Apesar disso, e tendo em conta o mercado, a poesia é colocada num segundo plano. Às vezes parece-me que há muito mais gente a escrever poesia do que a ler poesia. O que também me parece uma perversão completa.
- Lida bem com a entrega de prémios?

- Quem ganha prémios gosta sempre de os ganhar. Também me parece que os prémios e as diversas formas de reconhecimento devem ser relativiza-las. Escrever é também uma forma de reflectir sobre nós próprios e sobre o nosso lugar. O olhar que os outros possam ter sobre o nosso trabalho é importante, mas devemos também confiar no nosso próprio olhar. É muito simpático quando os outros nos dizem que gostam, mas não pode ser tudo. Mas é muito bom receber prémios. Normalmente, quem faz um discurso anti-prémios são os que os não recebem.
- José Saramago, de quem era admirador, conseguiu receber um Nobel. É possível a língua portuguesa voltar a ser distinguida? Temos mérito para isso?

- Claro que sim. A língua portuguesa, para já, tem um potencial extraordinário, com várias obras, neste e no outro lado do Atlântico, a comprovarem-no. No entanto, não me parece que seja interessante fazermos depender da agenda do Prémio Nobel o valor que damos à nossa própria literatura. Se derem Prémios Nobel a autores de língua portuguesa, à partida, parece-me muito justo, se não derem não será por isso que os autores têm menos mérito. Hoje em dia, receber um prémio como esse depende de múltiplos factores e não apenas da qualidade literária. Aquilo que um autor se deve preocupar, em primeiro lugar, é com a sua obra e com a qualidade do que produz. Ter também a consciência tranquila em relação à mensagem que envia para o Mundo.
- Tem sido visto como um nome da nova literatura portuguesa, juntamente com outros autores como valter hugo mãe ou Gonçalo M. Tavares. Que opinião tem sobre o seu trabalho?

- Gosto bastante. São autores muito diferentes, mas há outros nomes de que poderíamos falar, porque também apresentam trabalhos bastante pessoais, no sentido em que não se tratam de autores que, necessariamente, formam um grupo estético. Aprecio bastante e leio. Encontro-os em múltiplas ocasiões e temos oportunidade de falar sobre o que mais nos preocupa e o que mais no interessa.
- Não existe rivalidade?

- Não sinto isso, pessoalmente. Na minha opinião, existe efectivamente uma geração porque se trata de um número bastante coeso no que diz respeito à atenção que merece que têm em comum a particularidade histórica de terem crescido depois do 25 de Abril de 1974. As grandes mudanças estéticas ao nível da literatura sempre estiveram ligadas aos seus contextos históricos e a esta geração coube esta característica de termos vivido neste período.
- Não é estranho não haver mulheres mais associadas a essa nova geração?

- Isso é incrível. Existem poucas - não digo que não existam nenhumas - e isso será revelador de alguma coisa que não sei muito bem o que é. Curiosamente na poesia têm surgido mais nomes do que na prosa.
- O IVA vai manter-se nos 6% ao contrário das outras áreas culturais. Se isso não acontecesse era o fim da indústria?

- Para já, é possível que exista aí o facto de termos um secretário de Estado [Francisco José Viegas] que tem uma sensibilidade ligada à literatura, sendo escritor. Sendo editor também tem, possivelmente, consciência do impacto que teria na indústria editorial a subida do IVA. Um impacto do IVA seria tremendo. A área editorial, hoje em dia, já não é um parente pobre. Existem grupos com poder, que movimentam muito dinheiro e que, inclusivamente, têm uma agressividade que não tinham antes. Nessa medida, considero muito importante. Até porque a escrita é uma área da Cultura que é fundamental na construção de uma política cultural. Nem é necessário ir buscar as vitórias internacionais que a literatura portuguesa teve e tem tido, basta ver o próprio papel que ela tem, em Portugal, aos mais diversos níveis. A literatura portuguesa contemporânea está de muitíssima boa saúde. Tudo o que se fizer para manter esse vigor é positivo. Mas sei que é uma área que sofre muito com a crise.

- Tal como Francisco José Viegas, era capaz de aceitar um cargo político?

- Ainda bem que há pessoas que o fazem, mas pessoalmente seria incapaz. Aí está uma coisa que sei que o futuro não me reserva. Aquilo que sempre quis e continuo a querer é ser escritor e escrever livros.

- Mas foi associado ao arranque do movimento dos indignados. Foi apenas uma questão cívica?

- Sim. Não vou prescindir das minhas convicções e da minha acção cívica. Em termos de cargos, não me parece que alguma vez me encontre nessa posição

Por:Rui Pedro Vieira

Correio da Manhã

quinta-feira, 27 de outubro de 2011

Arranca semana dedicada a Saramago no MOMA



O Museu de Arte Moderna MOMA, em Nova Iorque, dedica uma semana à obra de José Saramago.

Desta quinta-feira e até 1 de Novembro, haverá iniciativas centradas no Prémio Nobel da Literatura português. Um dos pontos altos é a exibição do filme ‘José e Pilar', documentário de Miguel Gonçalves Mendes, que é a escolha de Portugal para representar o país na próxima edição dos Óscares, na categoria de Melhor Filme em Língua Estrangeira. O filme vai encerrar a homenagem nos Estados Unidos

A semana ‘Saramago em Nova Iorque' é organizada pelo Arte Institute e pela Fundação Saramago e tem como comissão de honra o senador Jack Martins, o embaixador José Filipe Moraes Cabral, o representante permanente de Portugal junto das Nações Unidas, Joana Vicente, directora executiva do Independent Filmmaker Project, o António Homem, director da Sonnabend Gallery, e Marta Santos Pais e o representante especial do secretário-geral da ONU para a Violência contra as Crianças
Nesta semana terão lugar vários eventos: uma exposição, ‘Emptiness, Silence', na Sonnabend Gallery, uma palestra em Newark, na Universidade Rutgers, um concerto de Noiserv, bem como várias tertúlias e leituras de textos por actores em torno da vida e obra do único Prémio Nobel de Literatura em língua portuguesa.
Ainda inserido nesta homenagem, foi lançado um concurso internacional, promovido pelo instituo Camões, intitulado ‘Ler Saramago'.

In CM (27/10/2011)


quarta-feira, 26 de outubro de 2011

Prémio Literário José Saramago 2011

O prémio foi entregue por Pilar del Río (à esq.), viúva do Nobel da Literatura

A brasileira Andréa del Fuego, 36 anos, é a vencedora do Prémio Literário José Saramago, no valor de 25 mil euros, com o romance "Os Malaquias", foi hoje anunciado na sede do Grupo BertrandCírculo, em Lisboa, pela presidente do júri, Guilhermina Gomes.
Esta é a sétima edição do galardão que distingue autores com obra editada em língua portuguesa, no último biénio, menores de 35 anos à data de publicação da obra.
O prémio foi atribuído por unaminidade e é entregue a Andréa del Fuego, pseudónimo de Andréa dos Santos, por Pilar del Río, presidente da Fundação José Saramago e viúva do Nobel da Literatura, que também integrou o júri.

Ler mais: http://aeiou.expresso.pt/andrea-del-fuego-vence-premio-jose-saramago=f683185#ixzz1bsoLMx4H

Mês Internacional da Bibliotecas Escolares






A Cegonha e a Tartaruga

I
Era uma vez uma Cegonha,
Valente e aventureira.
Era uma vez uma Tartaruga,
Solitária e caseira.

II
Mau tempo se anunciou,
A Cegonha ansiosa fugiu.
Pelo caminho, nada a assustou.
No mar a tartaruga viu.

III
A Cegonha convencida pensava
Que só ela é que sabia.
Questionou a Tartaruga.
E a tudo esta respondia.
IV
A Cegonha já enervada
Lá voltou a perguntar.
Mas a Tartaruga sabichona
Continuava a acertar!

V
Cheia de más intenções
Perguntas difíceis colocava.
Deixando a Cegonha irritada
Pois a Tartaruga a todas acertava.

VI
“Cangurus, cucos e macacos.”
Calou-se a Cegonha descorçoada
Foi uma resposta seca,
Ela ficou de boca fechada.

VII
Era a vez de a Tartaruga perguntar.
A Cegonha queria lá saber!
Pois estava tão enraivecida.
A nada sabia responder!

VIII
Com perguntas e respostas,
A Cegonha ficou espantada.
Pois ao pé da tartaruga,
Não sabia quase nada.

IX
A Cegonha questionou
Donde viria tanto saber?
O que ela não sabia
É que também se aprende a ler!

X
Lá iam as duas a caminhar,
Uma pelo ar, outra pelo mar.
A Cegonha só pensava.
No que iria encontrar…

XI
Quando ao destino chegaram
A Tartaruga disse: “Anda ver!”
Foram até à Gruta Biblioteca,
Onde havia muitos livros p’ra aprender.

XII
O segredo da Tartaruga era afinal
Estantes compridas como ruas.
A cegonha viajava pelo mundo.
A Tartaruga caminhava pelas leituras.


Moral da fábula:

Não necessitas viajar,
Para conhecimento teres,
Basta, viajares com os livros,
Para um sábio seres!

Quadras elaboradas pelos alunos do 6º A, a partir da fábula A Cegonha e a Tartaruga de Ana Maria Magalhães e Isabel Alçada.

sexta-feira, 21 de outubro de 2011


O Barão - Trailer from Ante-Cinema on Vimeo.

Baseado no conto de Branquinho da Fonseca, “O Barão” conta a história de um inspector de escolar que tem de se deslocar a uma vila na província (Barroso), onde conhece o Barão, um cruzamento entre um ditador e um vampiro. Logo pelas legendas iniciais se percebe o estilo e as referências que Edgar Pera persegue aqui: o dos filmes B de terror, com contornos de fantasia e de crítica política.

Com um estilo exagerado e a aproximar-se mais do musical ou dos comics do que do terror, as aventuras do pobre inspector nas mãos do Barão estão cheias de referências históricas do cinema, com um toque de fantasia adicionados pelo próprio realizador. “O Barão” é um filme expressionista, com uma preocupação estilística visual e sonora que se reflecte até nas legendas em inglês que se vão espanhando pelo ecrã e reflectindo o tom do que é dito e gritado pelas personagens.
É um filme divertido, mas que arrisca a perder a força da crítica, no excesso de elementos estilísticos utilizados. Ainda assim, um filme “fácil” de um realizador que nem sempre o quer ser.
O Melhor: As referências cinematográficas e a crítica política.

O Pior: Está um pouco sobrecarregado de elementos de estilo, quer a nível de imagem, quer a nível de som.

A Base: É um filme divertido, mas que arrisca a perder a força da crítica, no excesso de elementos estilísticos utilizados. 6/10

João Miranda

Artigo retirado do site www.c7nema.net

segunda-feira, 17 de outubro de 2011


Pilar decifra o livro proibido de Saramago

Apesar de ser posto à venda hoje, o romance 'Claraboia', de José Saramago, foi dado como pronto pelo escritor na primeira semana de Janeiro de 1953. Durante 58 anos, o original andou de mão em mão, até que Saramago o recuperou e o guardou até à data da sua morte.

Não proibiu a sua publicação, apenas não desejou fazê-lo em vida. Entregue sob o pseudónimo de Honorato a uma editora, através de um amigo, ninguém lhe disse mais nada até que, décadas depois, já galardoado com o Nobel, o dactiloscrito foi achado. Contactado, o autor disse não à edição e exigiu a sua devolução.

In DN

sexta-feira, 14 de outubro de 2011

Escritaria 2011: Moçambique "contamina" Penafiel

Escritaria 2011: Moçambique "contamina" PenafielPenafiel vai receber o Festival de Literatura "Escritaria" nos dias 15 e 16 de Outubro. A edição deste ano é dedicada à presença da cultura lusófona em Moçambique, com especial destaque para a obra de Mia Couto.
A 4.º edição do Festival de Literatura "Escritaria", que vai decorrer em Penafiel nos dias 15 e 16 de Outubro vai ser falada em português com sotaque africano.
Mia Couto é o autor em destaque, homenageado em conferências, tertúlias de discussão literária e encenação de textos. O ponto alto do festival será, por isso mesmo, a conferência com o escritor e biólogo moçambicano. As ruas de Penafiel serão decoradas com post-its com frases do autor e até as montras das lojas estão recheadas de excertos da sua obra.

No entanto, o escritor moçambicano não será o único grande nome da lusofonia a estar presente em Penafiel. O artista plástico moçambicano Roberto Chichorro, o escritor angolano José Eduardo Agualusa e a professora universitária são tomense Inocência Mata, por exemplo, vão estar presentes para discutir a cultura lusófona.
Os nomes distintos das outras edições serão recordados. No dia 15 será lançada a biografia "Agustina Bessa Luís, Vida e Obra", de Mónica Baldaque, filha da escritora. Urbano Tavares Rodrigues e José Saramago vão ser, também, honrados através da leitura de textos sobre as suas obras.
Para além de literatura, também a gastronomia, o artesanato e a música estão presentes. Espectáculos de Rua e "Tasquinhas" com artes e sabores moçambicanos vão animar as artérias da cidade e a exibição de documentários irá servir para apresentar a cultura da Comunidade dos Países de Língua Portuguesa (CPLP).


Por António Gonçalves 

quarta-feira, 12 de outubro de 2011

Feira do Livro de Frankfurt



A Feira do Livro de Frankfurt 2011 abre hoje, quarta-feira, com 7384 expositores de 106 países e prepara-se para receber até domingo 280 mil visitantes.




"Qual o livro que levaríamos para uma ilha deserta?" é a pergunta que nos tem entretido durante séculos. Será que com os leitores de ebooks e a possibilidade de levarmos vários livros num ereader, em vez de um só para uma ilha deserta, acabou com este jogo? Foi assim que Gottfried Honnefelder, presidente da Associação de Editores e Livreiros Alemães inaugurou os discursos da cerimónia oficial da abertura da Feira do Livro de Frankfurt 2011 ao final da tarde desta terça-feira.

É uma pequena ilha com uma grande literatura, a Islândia, que este ano é o país convidado da maior feira do livro do mundo. O escritor islândes Arnaldur Indridason, autor de "A Voz" (ed. Porta Editora), subiu ao palco do auditório principal da feira para explicar que a literatura do país onde nasceu e vive é diversa e que o povo islandês tem orgulho na sua história. Ao longo do tempo a Islândia teve de lutar contra a natureza, sobreviver a tremores de terra e erupções vulcânicas mas assegura Indriadadson é um sítio óptimo para poetas viverem e propício à criação. Depois de tempos turbulentos, a melhor maneira de pisar em terra firme é usar a criatividade.
A Islândia continua hoje a escrever a sua História porque tem orgulho nela. Todas as nações, pequenas ou grandes, contribuíram de alguma forma para a construção do mundo. A Islândia deu ao mundo as sagas que inspiraram grandes escritores como Borges e Tolkien, lembrou. "Hoje, quando os livros viajam mais do que em qualquer outra altura, os nossos livros mostram a nossa tradição e provam que não tem fronteiras de qualquer espécie." Mas a literatura islandesa não é só tradição, a literatura mais recente prova que existe diversidade.
A escritora islandesa, Gudrun Eva Minervudóttir, que falou a seguir, também em representação do país onde por ano em média cada islandês compra oito livros por ano, falou no período conturbado por que passou o seu país com o crash dos bancos e lembrou que a literatura com a crise mostrou ser ainda mais importante pois é como um espelho que mostra tudo. Num país onde as pessoas estiveram sempre muito preocupados em sobreviver, os livros tornaram-se o único entretenimento porque a televisão era pobre. "Deixámos de estar isolados e isso foi bom porque o mundo é interessante. Os livros são feitos para entreter e também para sabermos mais, para nos dar conhecimento. Acredito que as histórias nos mostram um novo ângulo e nos ajudam a ter outros pontos de vista. O mundo da ficção não tem fronteiras", acrescentou.
Num momento em que a indústria editorial mundial em mudança, a Feira do Livro de Frankfurt quer continuar a ser o local onde se compram e vendem direitos da forma tradicional mas também o local onde os direitos digitais e os formatos multimédia aparecem nessa negociação. Uma feira onde se discutem a digitalização, as leis de direitos de autor e a pirataria que está a aumentar na Alemanha e que foi referida em todos os discursos feitos por alemães na cerimónia de abertura.
Juergen Boss, o director da Feira do Livro de Frankfurt, lembrou que os novos modos de distribuição e as novas formas de direito de autor pode trazer riscos mas também trazer desafios. "Gostaria que todos usassem esta feira para tirarem partido das discussões que aqui vai acontecer durante os próximos dias". A feira começa amanhã, quarta-feira, e fecha no domingo.
E Gottfried Honnefelder, o presidente da Associação de Editores e Livreiros Alemães voltou a subir ao palco e, fazendo o gesto de um martelo a bater na mesa, anunciou: "A Feira do Livro de Frankfurt 2011 está oficialmente aberta!"
Isabel Coutinho
in Público

segunda-feira, 10 de outubro de 2011

iSteve

iSteve


Na Mente de Steve Jobs

Sinopse: Simultaneamente uma biografia e um guia sobre liderança e inovação, este livro vem traçar o perfil de Steve Jobs e dos resultados que alcançou. Nele poderá encontrar segredos e episódios relacionados com a origem dos produtos mais emblemáticos - como o iPod, o iTunes ou o iMac - e conhecer toda a história por detrás do fenómeno que aliou alta tecnologia, design e visão comercial e estratégica para alcançar o topo.

Editorial Presença

sexta-feira, 7 de outubro de 2011

Prémio Nobel da Literatura 2011


Poeta Tomas Tranströmer, prémio Nobel da Literatura O sueco Tomas Tranströmer, 80 anos, autor de "Den stora gatan" (O Grande Enigma, 2004) foi distinguido hoje com o prémio Nobel da Literatura. O galardão foi anunciado hoje em Estocolmo às 12h (horário de Lisboa). O prémio tem o valor monetário de dez milhões de coroas suecas, cerca de 1,1 milhões de euros.
O prémio Nobel da Literatura 2011 é representante da poesia lírica, que não era premiada pela academia sueca desde 1996, ano em que foi eleita a poetisa polaca Wislawa Szymborska. A Academia sueca anunciou que Tranströmer merceu o galardão "porque, através das suas imagens condensadas e translúcidas, dá-nos um acesso fresco à realidade". Além da sua obra poética, tem-se destacado como tradutor.
A cerimónia de entrega dos Prémios Nobel 2011 realiza-se no próximo dia 10 de dezembro, na capital sueca. Tomas Tranströmer, no entanto, não vai poder falar para agradecer. O poeta sofreu em 1990 um acidente vascular cerebral que o deixou em parte afásico e hemiplégico. Apesar disso, continuou a escrever. Desde então, publicou mais três obras, entre as quais "O Grande Enigma: 45 Haikus".
Poeta sueco mais traduzido no mundo

Nascido em Estocolmo a 15 de abril de 1931, foi psicólogo de profissão até 1990. Autor de cerca de 20 livros, lançou recentemente uma nova antologia. Em 1988, foi distinguido com o prémio Pilot , destinado a escritores "com obra literária notável na lingua sueca".
O poeta sueco mais traduzido em todo o mundo (em 30 línguas), Tranströmer começou a publicar poesia aos 23 anos e o seu primeiro livro intitulava-se "17 dikter" ("17 Poemas"). Em Portugal, Tomas Tranströmer está representado na coletânea "21 poetas suecos", editada pela Vega, em 1981.
Publicou cerca de 15 obras numa longa carreira dedicada à escrita e venceu numerosos prémios literários, como o Prémio Literário do Conselho Nórdico, em 1990.A maior parte da sua obra está escrita em verso livre, apesar de ter feito também experiências com linguagem métrica.
Tranströmer vive atualmente numa ilha, longe dos olhares do mundo.

Poeta cantou Lisboa

No livro "21 poetas suecos", publicado em 1981 pela editora Vega, uma obra organizada por Vasco Graça Moura e Ana Hatherly, surge o poema "Lisboa", onde o poeta sueco destaca elementos típicos das zonas históricas da capital portuguesa.
"No bairro de Alfama os elétricos amarelos cantavam nas calçadas íngremes/Havia lá duas cadeias. Uma era para ladrões/Acenavam através das grades/Gritavam que lhes tirassem o retrato", escreveu Tomas Tranströmer.
"Mas aqui´, disse o condutor e riu à socapa como se cortado ao meio/´aqui estão políticos'. Vi a fachada, a fachada, a fachada e lá no cimo um homem à janela/tinha um óculo e olhava para o mar", relata o laureado com o Nobel da Literatura 2011.
"Roupa branca no azul. Os muros quentes/As moscas liam cartas microscópicas/Seis anos mais tarde perguntei a uma senhora de Lisboa/´será verdade ou só um sonho meu?´", finaliza o poeta sobre a cidade junto ao Tejo.
Uma passagem pelo Funchal também inspirou Tomas Transtroemer, dedicando-lhe um verso onde destaca o mar, a receita atlântica do peixe com tomate e a "língua estranha".
Em 2010, a Academia sueca distinguiu o escritor de origem peruana Mário Vargas Llosa, autor de "Conversa n'A Catedral" e de "Guerra do Fim do Mundo". Os últimos galardoados, anteriores a Llosa, foram Herta Müller (2009), Jean-Marie Gustave Le Clézio (2008), Doris Lessing (2007), Orhan Pamuk (2006), Harold Pinter (2005), Elfriede Jelinek (2004) e John M. Coetze (2003).
O prémio Nobel da Literatura foi atribuído em 1998 a José Saramago.

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segunda-feira, 3 de outubro de 2011

Gonçalo M. Tavares vence Prémio

Gonçalo M. Tavares é o vencedor, com o romance "Uma viagem à Índia", do Prémio Literário Fernando Namora/Estoril Sol 2011, no valor de 25.000 euros, informou hoje à Lusa o júri.
Ao galardão candidataram-se 50 obras e a "short list", pela primeira vez divulgada em 14 anos de existência do galardão, integrava, além de Gonçalo M. Tavares, Hélia Correia, João Tordo, Pedro Rosa Mendes e Valter Hugo Mãe, respectivamente com os romances "Adoecer", "O bom Inverno", "Peregrinação de Enmanuel Jhesus" e "A Máquina de Fazer Espanhóis".
Relativamente à obra "Uma viagem à Índia" o júri considerou "a maneira inovadora como o autor explora as relações entre a forma romance e a matriz épica, bem como a hábil trama narrativa e a estruturação da acção", lê-se na ata a que a Lusa teve acesso.
O prémio será entregue em data "a anunciar oportunamente", disse à Lusa fonte da Estoril-Sol.

in DN